Palavras do Criador

O Horror Show surgiu de modo a me ajudar expressar minhas ideias. Gosto quando as pessoas escutam minhas narrativas, quando se sentam nas mesas de RPG para fazerem parte da história, então muito do que escrevo aqui fez ou fará parte de alguma crônica, sessão ou enredo ou as veses as história não podem ir para a mesa e acabam indo pro Blog. Então para aqueles que gostam de Histórias de Horror, sintam-se a vontade!!!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Formigas Assassinas...

Já estava na letra “f” da lista telefônica e ele sabia que as páginas seguintes também não lhe interessavam. O ultimo tópico da seção, ele parou e analisou com muita calma. Porque chamara tanta sua atenção? Sei que Nietzsche é seu guru e Platão o seu patrono, mas ele já havia “amado” uma professora de filosofia antes, foi uma noite e tanto, contudo, conhecendo bem nosso amigo, não deve ter sido o bastante.

“555-9876... será que não conheço esse numero?” pensou por um instante como se dessitise de tudo. Baixou a cabeça e continuou a refletir. “Acho que não, ou teria certeza.”.

-- Alô? Como posso ajudá-lo. -- Uma voz rouca e grave perguntava do outro lado da linha.

-- É o Dr. Floyd? – o nosso amigo perguntava com um sorriso cínico estampado em seu semblante.

-- Sim. Você quer marcar uma consulta?

-- Acho que sim, é, foi por isso que liguei. Quero marcar uma consulta doutor. – cada vez que escutava o som rouco e grave do outro lado da linha sua adrenalina aumentava. “Ele deve ser especial” pensou, “Talvez possa ser o ultimo, preciso de uma nova companhia”.

-- Você poderá vir na sexta as 15h00min. Tudo bem pra você?

-- Ótimo.

O sorriso daquela figura esquálida estendia-se de um lado ao outro do rosto esquelético enquanto devolvia o telefone ao gancho. Levantou-se de sua poltrona velha e surrada e ascendeu o primeiro cigarro do dia, eram oito da manhã, mas para ele não fazia diferença, o dia e noite eram como instrumentos a serem manejados e para este novo desafio precisava apenas do dia.

Poucas pessoas sabiam quem realmente era Vinicius Mortis, era difícil vê-lo pela manhã e as noites nunca estavam em casa. As crianças do bairro diziam tratar-se era um velho bruxo ou serial killer foragido da policia, mas todos os sábados iam até seu apartamento apreciar o circo de insetos do velho Sr. V. -- e, diga-se de passagem, era o melhor da cidade, talvez o único.

Smile Vilage não era uma cidade tão grande, as pessoas se conheciam bem, por isso a necessidade de V. em procurar nomes em listas telefônicas de outros municípios, foi onde ele achou a maioria de suas vítimas. Pioneer ficava a uns 45 minutos de carro de Smile Vilage, por isso o movimento pendular de ir e vir era freqüente e as pessoas não estranhavam a presença de novas pessoas.

O Dr. Floyd estava esperando seu ultimo paciente do dia, eram 15h00minhs e o consultório fechava as 16h00minhs nas sextas. “espero que não demore, tenho um recital de poesia daqui à uma hora, vou só fazer um diagnóstico rápido e marcar outra consulta”, pensava nervoso enquanto lia a ultima de suas poesias.

-- Doutor, o Sr. Mortis chegou. Mando-o entrar? – seus pensamentos foram interrompidos pela voz aguda e irritante da nova secretária.

-- Claro, mande-o entrar.

Ao olhar para o velho manco que entrava em sua sala o doutor sensitivamente pressentiu que aquela não seria mais uma consulta banal. “Adeus recital” ele perdia-se em pensamentos enquanto o velho manco caminhava cuidadosamente pela sala a analisar os quadros e livros expostos nas paredes e estantes. Tarsila e Portinari perdiam completamente o sentido quando um homem como aquele apreciava as obras. Era como se os Retirantes fossem antropofagisados pelo Abaporu, uma coisa tão grotesca ver o belo apreciar o feio. Era inadmissível.

-- Pode se sentar Sr.

-- Aqui no divã?

-- Se preferir...

-- Por onde posso começar? Tenho tantas coisas para falar?

-- O que o trás até aqui?

-- Estou sentindo que o fim esta próximo, tudo que fiz durante toda minha vida vai acabar e mal posso esperar para que o fim comece.

O tempo passava e o doutor não parava de olhar para o relógio, Vinicius começou a sentir-se incomodado: “Será que não estou conseguindo, o que devo fazer para atrair sua atenção? Acho que devo contar a verdade”.

-- Tudo que contar para o senhor será mantido em sigilo. Não é? Ética de trabalho. É isso?

-- Sim... – o doutor percebeu que as coisas passaram a ficar mais interessante – nada sairá deste consultório.

-- Sou um pastor doutor. E sinto que minhas ovelhas chegaram ao fim, perdi a vontade de conduzi-las. Armar uma estratégia. Um plano perfeito para finalmente chegar ao orgasmo, vendo a essência encarnada escarlate dos meus gentis amores.

Ele conseguiu, não há palavras para descrever o horror sentido pelo jovem analista: ele parou de respirar por um segundo, depois ficou ofegante, a sala espaçosa e cheia de estantes entupidas de livros girou a sua volta, a cor cinzenta da sala tornou-se rubra como o fogo e excitante como o sangue. Depois do breve delírio, Ivan Floyd, sentou-se em uma cadeira estofada ao lado do divã e tentou relaxar, apesar de ser impossível em um momento como este e perceber que nada fazia sentido:

-- Você veio procurar um psicanalista porque não tem mais vontade de matar?

-- Não sou um simples assassino doutor, confesso que sinto prazer em uma presa digna, mas não é simplesmente matar... É sentir amor pela pessoa a ponto de livrá-la do mal da humanidade, pense só: o que o homem faz além de mal a sua própria espécie? Estamos em pleno século xx e o controle sob a tecnologia é indiscutível, mas de que modo a usamos? Através de armas para conseguir o controle completo sob uma determinada nação só porque não segue os nossos dogmas capitalistas? De que serve esta guerra do Vietnã, além de afirmar a autoridade dos grandes investidores? O que ganhamos com a miséria da África, além de papel? Deus nos deu este mundo para aprendermos a amar o próximo e não dominá-lo, e é isso que eu faço, assim como Caim entregou ao Criador o seu bem mais precioso, eu entrego aos braços Dele tudo que amo. A humanidade.

Ao posicionar-se melhor na cadeira para que pudesse não desviar sua atenção daquele que seria um quadro clínico reconhecido como “esquizofrenia”.

Uma Palavra Inicial

Durante muito tempo venho escrevendo diversos contos e histórias de horror na solidão sombria do meu coração não mais pulsante. Porém hoje mostro a vocês mortais um pouco dessas histórias. Pretendo grafar aqui contos novos e antigos, bem como os que virão futuramente.

Horror Show foi o nome que consegui imaginar desde meus primórdios como escritor (se é que sou) para minha coletânea de contos de suspense, trashes e gores em geral, afim de almejar uma publicação literária. Então sem mais delongas aqui está meu primeiro conto: