Palavras do Criador

O Horror Show surgiu de modo a me ajudar expressar minhas ideias. Gosto quando as pessoas escutam minhas narrativas, quando se sentam nas mesas de RPG para fazerem parte da história, então muito do que escrevo aqui fez ou fará parte de alguma crônica, sessão ou enredo ou as veses as história não podem ir para a mesa e acabam indo pro Blog. Então para aqueles que gostam de Histórias de Horror, sintam-se a vontade!!!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O Misteriosos Doutor Black. Parte I

Villa é um distrito da cidade de Helm, afastado da cidade. As pessoas que vêem de fora da região podem até pensar que é um município pequeno, interiorzinho de gente humilde. Aqui todos se conhecem, não há muitas propriedades, porem as extensões de terras são enormes. O bar do Guerra é uma das construções mais humildes do local, porém é sempre agitado nos fins de semana. O distrito possui uma igreja, a da Nossa Senhora das Graças, o povo é bem religioso e um posto policial, costumeiramente freqüentado pelos moleques vagabundos e problemáticos. Pode-se dizer que os únicos crimes que aconteciam na Villa eram de vandalismo. Mas certa vez houve um crime de verdade.

Lembro-me bem. Era uma manhã de sol em julho de 1906 e eu estava cortando lenha para dona Márcia, queria ganhar alguns trocados. O marido dela não estava em casa, ele havia saído na noite passada para jogar dominó no bar do guerra e só iria voltar quando bebesse todo seu dinheiro, era de costume por lá esse jogos. Ao meio-dia eu já havia terminado mais da metade da lenha e estava servindo-me de um prato de comida preparado pela dona Márcia, almoçava do lado de fora e vi quando o senhor Ricardo chegou, ele me cumprimentou e entrou. Estava bêbado ainda.

Escutei o homem falar diversas vezes “Querida venha aqui não vou lhe fazer mal. Eu te amo!” enquanto procurava a mulher. Até então pensei que era apenas mais uma daqueles surtos de gente bêbada que não tem noção do que fala. Entrei na casa para agradecer o almoço e lavar o prato e quando cheguei à cozinha vi sangue e um corpo no chão, era a dona Márcia. Jogada de bruços, uma poça de sangue formava-se sob ela, o marido estava à mesa chorando, limpava uma faca de cortar carne, as mãos sujam de sangue e óleo de cozinha. Fique estático durante um tempo, larguei o prato que segurava no chão e corri, precisava chamar alguém.

Cheguei depois de um tempo com a polícia, mas o que achamos desta vez foram dois corpos, o da mulher e do marido, ele cravou a faca em seu abdômen, suicidou-se. Mais tarde descobrimos o motivo de tudo aquilo, ele apostou sua propriedade em um jogo de dominó e perdeu tudo. Provavelmente não queria ver a mulher mendigando ou usando o corpo para ganhar dinheiro e decidiu por um fim no destino dos dois. Entretanto não é essa a história que nos interessa. Esta era apenas para lhe dizer das coisas estranhas que acontecem aqui.

I

1914 era um ano quente e em julho o local parecia o inferno de tão cáustico que se tornara. A polícia apagou dois incêndios aquele mês, um nas terras do senhor Silva e outro na mata que ser forma antes do rio. Aquilo não era comum de acontecer, os mais velhos chamavam de mal pressagio, eles sabiam o que ia acontecer.

Não recebíamos muitas pessoas de fora da cidade ali naquele distrito. Geralmente nos visitavam o prefeito de Belém ou o delegado geral para verificar se estava tudo em ordem por ali. Então a chegada do viajante nos foi inesperada. Ele chegou pela parte da noite não havia quase ninguém nas poucas ruas do distrito, posso afirmar quem o viu chegar foi poucas pessoas, mas a noticia de sua chegada já estava na boca dos maiores leva-e-traz do distrito, afinal lugar pequeno, todos se conhecem, é difícil não saber. Antes de ver o tal viajante, já sabia como ele era e onde estava hospedado. Homem alto, magro, pálido por carência de sol, cabelos bem negros, escovados, em fim não dava pra saber realmente, afinal não o vira até então.

A antiga casa dos Rodrigues estava alugada, porem o locatário ainda não aparecera. Descobri quem era assim que soube dos boatos. O viajante. A casa parecia ter sido alugada muitos dias antes da chegada do viajante, mas não posso dar certeza, não me lembro de ver a placa de alugado em frente àquele casarão.

II

Os boatos sobre o homem que chegara de viajem há algumas semanas era passado, todos nós já o conhecíamos. O nome dele era Black e era médico. Fora designado pelo estado para exercer sua função ali. O ultimo médico de que me lembro era do doutor Costa, aposentou-se aos sessenta anos e partiu para cidade grande. Diferente do doutor Costa “o carrasco”, como o chamávamos, Black mostrou-se atencioso. Aparecia na casa dos doentes e velhos para saber de sua saúde sem cobrar taxa extra. Nos dias de folga reunia-se com os rapazes da minha idade no bar do guerra para falar de mulheres e coisas de gente nova. Carismático sem duvida.

Em uma destas reuniões, já tarde da noite, estávamos todos bêbados. Secamos para mais de trinta garrafas de cerveja, não era costume beber tanto, mas esta parecia ser uma noite especial... O bar finalizara seu expediente e saímos os quatro, Hélio parecia estar mais embriagado que todos nós juntos. O doutor e Carlos o carregavam. O caminho a pé para casa com aqueles três tornava-se divertido. Cantávamos músicas engraçadas e nos divertíamos muito. Hélio não agüentou tanto quanto nó e vomitou, parecia botar as vísceras para fora. “Ele precisa de um banho. Não vou levá-lo a casa da dona Carmem assim. Ela me mataria!”. Concordamos com o argumento de Carlos. Desviamos o caminho e seguimos em direção ao lago.

Hélio parecia muito exausto. Depois de banhá-lo e limpa-lo deixamos o rapaz encostado no pé de uma goiabeira. Hélio consumira um pouco do nosso tempo e nos cansou. Sentamos todos ali e nos divertimos, ainda sobrara uma garrafa de cerveja que eu vinha trazendo na mão, enquanto conversávamos bebíamos. A conversa tornava-se mais e mais estranha. Black, o doutor, parecia tenso e preocupado, ele escondia algo. Um segredo. Não se conteve, veio à tona e nos revelou seu mais profundo mistério. Estava perplexo.

III

Na segunda-feira, já a tardezinha. Os três rapazes: eu, Carlos e Hélio, reunimos em frente à casa da dona Carmem, mãe de Hélio. Silenciosos. Hélio sentava na velha cadeira de balanço antes pertencida à avó, encostada na parede de entrada da casa. Carlos debruçava-se sobre a rede atada estrategicamente para um maior conforto. E eu de pé encostava-me na enorme castanheira anciã em frente a casa. Fumava um cigarro de palha embolado por minhas próprias mãos, a fumaça invadia a casa e deixava os dois irritados.

- Acho que devemos contar. – Carlos quebrou o silêncio influenciado pela fumaça do meu cigarro.

- Mas ele nos confiou seu segredo. Somos seus amigos. Confia em nós. – Hélio prontamente discordava das palavras de Carlos, entretanto mostrava-se apreensivo.

- Também não conto. Não é justo. – Concordei.

A conversa não se prolongara muito. Cada um tinha uma opinião. Não havia nada a ser dito, não entre nós. Mas Carlos não concordava em manter segredo, quebraria o voto de silencio, revelaria a verdade por trás do doutor Black. Não nos disse que realmente faria, mas sabíamos, líamos seu olhar, sua expressão. Dispersamos. Cada um para sua casa. Menos eu. Segui para casa do doutor, tinha que lhe falar sobre Carlos, Sentia uma estranha sensação de lealdade. Devoção.

Chegando ao velho casarão aquela noite, onde Black fixara sua residência, percebi as portas e janelas trancadas. Ele não estava. Era estranho, pois as segundas ele não saia para atender na casa a menos que fosse um caso urgente, se este era o evento então ele não demoraria. Esperei. Dez da noite, ainda esperava. Meia noite, ele não retornou. Voltei para casa. Na manha seguinte, cedo, estaria na porta de sua casa. Devia lhe contar sobre Carlos e o segredo.

Sonhos estranhos me acometeram enquanto dormia. Carlos vinha até mim no sonho e dizia-me para revelar o segredo. Vestia-se de roupas finas, terno e gravata como nunca se vestira antes, sua expressão era aterrorizante, parecia muito pálido e com olhos fundos, como se dormisse há dias, das suas mãos pingavam sangue e vi passear por elas vermes, daqueles encontrados em comida estragada e animais mortos, comiam a carne de suas mãos. Parecia um morto.

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