Palavras do Criador

O Horror Show surgiu de modo a me ajudar expressar minhas ideias. Gosto quando as pessoas escutam minhas narrativas, quando se sentam nas mesas de RPG para fazerem parte da história, então muito do que escrevo aqui fez ou fará parte de alguma crônica, sessão ou enredo ou as veses as história não podem ir para a mesa e acabam indo pro Blog. Então para aqueles que gostam de Histórias de Horror, sintam-se a vontade!!!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A Ceia


Sim... eu trabalhei lá, durante muitos anos fui o faxineiro dos gabinetes centrais, apenas eu e os senhores Henri Castelo Bohr e Ricardo Almeida Zieg tinham acesso ao local. Ali era onde as reuniões com os acionistas aconteciam e eu ouvi muita coisa enquanto trabalhava, políticos corruptos se reuniam lá para se banhar em dinheiro sujo, mafiosos de toda parte do Brasil, e não to falando de traficantezinho, mas dos chefões do crime, na época a ditadura garantia uma boa aposentadoria para estes figurões. Não posso dizer que eles eram meus amigos, mas com certeza confiavam em mim, por isso era o faxineiro daquela parte do prédio, e por isso no quinto ano de trabalho eles me presentearam com a insígnia, eu não entendi direito, mas conhecia muito bem aquilo da época do holocausto, os judeus que não podiam morrer portavam uma daquelas, eu sou judeu, mas não me senti ofendido. Meses depois recebi outro presente, a chave de acesso ao subsolo, onde ficavam os antigos trilhos do metrô e mais abaixo. Eles disseram que o antigo faxineiro de lá sofreu um ‘acidente de trabalho’ e não podia mais fazer o serviço. Pensei que fosse algo simples, só lavar e pronto, e como estava enganado com a insígnia também me enganei com aquilo. No meu primeiro dia de limpeza, lembro-me bem que o senhor Henri falou ‘você sabe dos nossos negócios, então não se assuste com que vai encontrar por lá!’, pensei no pior... mas não chegava nem perto. Desci, e o maldito subsolo era um maldito cemitério, pior que isso, era um matadouro, corpos, sangue e vísceras espalhadas para todo lado, pilhas de ossos, pensei ter descido tanto que cheguei ao inferno, daí pensei que ali era onde estes malditos militares depositavam os milhares de desaparecidos da época da ditadura. Que merda. Demorou pra que eu me acostumasse ao novo serviço, pensei em chamar as autoridades, mas eles estavam todos lá, no salão oval e às vezes me cumprimentavam. Imagine só! Mas logo meu salário aumentou, meus patrões me tratavam como se eu fosse da alta sociedade e não tinha o que reclamar. Então chegou o ano em que a ditadura foi derrubada, mas os corpos continuavam a chegar, logo pensei naqueles chefões do crime, mas eles também não freqüentavam mais o salão e pouco a pouco, após a ditadura, os figurões iam sumindo até restar apenas os meus patrões, porem os corpos continuavam a chegar. Tentei perguntar a origem daquilo uma vez, mas fui severamente repreendido, então resolvi descobrir sozinho. Os corpos vinham no ultimo metrô, então exatamente as 03h00min da madrugada ele passava pela última estação e descia pelos trilhos antigos até o subsolo da estação de água, quando todos desceram me escondi e os corpos chegaram, um homem realmente muito grande e forte trazia-o. O metrô seguia até onde eu passava minhas manhãs limpando, naquele inferno. O condutor descarregava os corpos e soava um estranho alarme... É vocês não vão acreditar em mim agora. Das profundezas daquele inferno, eu vi com meus próprios olhos... Dez talvez quinze criaturas rastejantes, deformadas, com milhares de dentes pontiagudos saltando-lhes da boca enorme devorando toda aquela carne humana como canibais, não pude olhar muito, mas aquela visão e os gritos das criaturas brigando por aquele banquete infernal... Não pude mais agüentar...”

...Este conto é baseado na obra de Clive Baker 'The Midnight Meat Train'...


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